01/11/2010

Aquele palavrão

O seu Zé Maria disse que erraram no meu nome. Erraram sim, o senhor tem toda razão! Se queriam-me felizardo podiam ter escolhido, outro nome, porque um nome, seu Zé, vai com a gente, grudado e exibido, por uma vida inteira...

Mas a coisa podia ter sido bem pior se os meus pais aceitassem a sua sugestão: lembra-se disso, seu Zé? Ah, tenha dó... José Bonifácio... Ninguém aguenta, ninguém merece!

Salvei-me também do sério, do seríssimo Paulo Rogério que mamãe tanto queria. Só não me livrei do palavrão... Daquele palavrão. O Geraldão que é o meu pai, foi ao cartório naquele dia 08 de setembro e bateu o martelo: “Esse menino vai se chamar Paulo Feliciano Barbosa Neto”. Os outros nomes e sobrenomes entraram pelo cano, menos um, esse ensanduichado Felicianooooo...

E logo no primeiro ano de escola, a Dona Cida, a minha professora, passou a me chamar de Feliciano, como que fazendo uma homenagem ao meu pai ou ao meu avô, sei lá. “Feliciano isso, Feliciano aquilo”.

Eu me sentava na primeira carteira, bem pertinho da mesa da Dona Cida. Não é por nada não, mas a Dona Cida tinha uma cara de cachorro bravo. Ela usava óculos de armação marrom e pesada, as lentes mais pareciam fundo de garrafa de tubaína e ela era mesmo um cão em forma de gente.

Lição de de casa com a Dona Cida tinha outro nome: DEVER, uma obrigação à qual nós, os aluninhos, tínhamos que nos sujeitar sem sequer dar um pio.

Acontece que um dia, eu já sofria de poesia e de ócio, e a Dona Cida tava colocando o DEVER na lousa e quando ela terminou, notou que eu já havia guardado quase todo o meu material, só sobrara uma régua de madeira, de 30 centímetros.

Incotinente, a professora me questionou: “Feliciano, já copiou o DEVER?” Tremendo de medo disse-lhe que sim. A Dona Cida então pediu para ver o meu caderno, havia escrito apenas a fatídica, a impositiva palavra DEVER.

A mulher espumou de raiva e não teve dúvidas: pegou aquela régua de madeira, de 30 centímetros e deu na minha cabeça, mas o que mais doeu foi ouvi-la pronunciar aquele horripilante F E L I C I A A A A N O.

Mas eu perdôo a senhora, Dona Cida, perdôo mesmo, só acho que a senhora não precisava ter dito aquele palavrão, pra quê? Não bastava só a reguada.

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