16/12/2010

Mudança de casa

OLÁ AMIGOS, O CARA DE PAVIO MUDOU DE CASA

http://caradepavio.wordpress.com/

A GENTE SE ENCONTRA NO NOVO ENDEREÇO.

atenciosamente,

Paulo Netho

Conspiração

Senti um espasmo, um arroubo. A cidade vazia. Como pode? Algo impensável nesses dias. Só sendo sonho. Que coisa mais sem sentido. Experimentei um passo e mais outro no espantoso silêncio. Apalpei-me, dei saltos para certificar-me se a situação era real ou não. Nem um sinal. Nada. Cadê Baco? Cadê os bêbados da praça, os atores falastrões, os heróis histriônicos, as putas tristes, as bichas alegres, os meninos de aluguel, os filhos da fumaça, os senhores do esquecimento. Cadê essa corja! Ninguém pra tomar um drinque e levar um lero sem futuro. Ninguém. Sequer um vira-lata de olhar pidão. Seria Sábado de Aleluia? Domingo de Páscoa? Natal? Feriado? Virada de ano? Que coisa! A cidade petrificada em seu abandono. Cadê os fujões? Esses covardes. Isso não se faz. E esse vento frio, inverno fora de época? A cidade não foi destruída por nenhum terremoto. Intacta e vazia. Conspiraçãoooo... Só pode ser isso. Chega de brincadeira, quero saber: cadê a vida que tava aqui?

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13/12/2010

Minha vila

Felizes são as pessoas da minha vila que sabem viver a vida. Quanta alegria, meu Pai, quanta alegria! Os botecos ficam lotados de homens e mulheres munidos com as suas latinhas de cerva, tudo pra não perderem a cadência do samba. Na minha vila é sempre essa celebração. O espírito humano acomoda evangélicos e católicos; iguais e diferentes; pagodeiros e sertanejos; gente com dente e gente sem dente. Isso sim que é viver. Na minha vila é lei. É proibido ser triste. Mulheres suadas com suas barriguinhas e barrigões de fora, que beleza. Os marmanjos mandam ver no pagode e no goró. Canela grossa, canela fina. Gentes de muitas patentes numa epifania dos sentidos. Portugueses, paraibanos, mineiros, baianos. Céticos e ascetas. Mendigos e nóias. Na minha vila a vida pulsa e até o mais fastiento dos domingos vira uma farra.


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11/12/2010

Uma paz súbita

Ainda a pouco estava a descascar alho na cozinha quando senti uma paz súbita. Foi como se o paizinho do céu estivesse me observando com as suas jabuticabas maduras sem me dizer sequer uma só palavra de carne e osso. O paizinho do céu usa palavras de vento ventado por passarinhos desavisados. Diga-se de passagem, vento benfazejo. Aí fiquei amando a esse simples ato. Por mim, a tarefa podia durar o tempo todo do mundo que nem ia me incomodar. Um a um, continuei a descascar aqueles dentes de alho roxo. Nem notei quando o paizinho do céu vestiu a calça cumprida da noite que já brilhava em estrelas. Quando dei por mim, a bacia tava cheinha até a boca de alho. Ih, quase me atrasei por causa disso. Resolvi então fazer macarrão ao alho e oléo para o meu amorzinho que devia estar - àquela hora - no sacolejo trepidante do trem e logo ia chegar.

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08/12/2010

Ciranda de Cantigas


Ontem fizemos mais um ensaio para o show "Tudo junto e misturado" que o Grupo Ciranda de Cantigas vai fazer no próximo domingo no Sesc São José dos Campos. Mó astral trabalhar com essa molecada: Vinícius Bini, Renato Delírio, Ricardo Kabelo, sem contar na sintonia fina com o Salatiel Silva, parceiro de músicas e shows nesses 13 anos. Nada de showzinho para crianças, trata-se de um showzão com uma pegada heavy metal para as cantigas de roda, mas além disso o público de São José dos Campos vai ser convidado a cantar e a se divertir com as nossas provocações. ENTRADA FRANCA

O show
começa às 16 horas e o endereço do Sesc é avenida Dr. Adhemar de Barros 999. Mais informações pelo telefone
(12) 3904-2000

06/12/2010

TV Sentidos - Balaio de Dois

Entre outubro e novembro, eu e o Sala, apresentamos o Balaio de Dois no Centro Cultural de São Paulo. Essa mini-temporada foi marcada por momentos de muita felicidade. Alguns desses momentos foram registrados pela equipe da TV Sentidos, que além de filmar a nossa apresentação fez uma entrevista com a gente. A entrevista é de Adriana Minei. Nós somos gratos ao Centro Cultural e a todos os profissionais da TV.




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As figuras

Julio e Débora D'Zambê são figuras adoráveis, pessoas incríveis e são meus amigos queridos. Tive a felicidade de conhecê-los graças ao James Missé. Na época, a minha casa virou uma livraria, um espaço destinado aos exercícios de estética. O casal gostou das minhas maluquices e transformou a casa deles, no Tucuruvi, em um espaço cultural também. Conheça-os assistindo a matéria veiculada na TV Brasil.



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04/12/2010

Azar da lagartixa

O relógio nem despertava mais. Ouvia no rádio todas as notícias, bem como, os passos na rua; as vozes na rua; os motores na rua; o despertar da rua. Jogou o rádio contra a parede. Azar da lagartixa. Ferida em cheio, despencou desgrenhada daquela branquidão descascada. Antes de finar-se, ainda mexeu o rabinho, a desafortunada.

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03/12/2010

David Gilmour

Então, então você acha que consegue distinguir o ceú do inferno?



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02/12/2010

Dentro do formigueiro

Você pensa que é fácil encarar essa feiúra? Definitivamente, lhe digo que não é. O que se foi – como o verbo mesmo sacramenta – é aquilo que já se foi, o que não volta mais. Não compreendo tamanha intolerância com a nova realidade como ela se nos apresenta. De fato estamos no olho do furacão dentro do formigueiro, acuados por gente, carros, poluição, descasos, violência, maledicências, proliferação de prédios e solidões, quilômetros e mais quilômetros de indiferença. Claro que isso nos enjoa, nos fere letalmente. Mas penso que não devemos nos entregar feitos uns cordeirinhos indefesos. Penso que o horror jamais poderá sucumbir a beleza da existência. Você me diz que sou um sonhador e coisa e tal. Não sei se sou isso. Talvez eu seja como você; alguém que procura uma saída, um porto seguro, vontade pra trocar de casca ou coragem pra enfrentar um dia cheio de possibilidades adormecidas.

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28/11/2010

Sábado de sol


Ontem deu feira e eu me dei férias das chateações. Vesti-me na borracha de uma hawaiana preta que combinou bem com a bermuda verde e a camiseta branca. Com esses simples apetrechos me embrenhei no sábado azul. Adoro dias azuis, noites estreladas, gente de bem com a vida. Pertinho do meio dia, o Malatiel passou em casa. Fomos visitar a querida amiga Márcia Rocha; ela mora na rua da feira. Chegando lá, fomos direto à barraca de pastel. A Márcia passou batom básico que combinou com o esmalte vermelho das unhas e colocou os óculos escuros. A barraca de pastel fica ao lado de uma de caldo de cana. O seu Zé Carlos e a dona Darcy são os donos do caldo de cana; ontem, esse casal completou 30 anos de casamento. O seu Zé, todo orgulhoso, foi quem nos contou. Antes desse momento gastronômico, porém, encontramos outra amiga: a Cíntia Macedo. Lívio, o amor made in Italia da donzela, segurava a sacola da moça de Vila Yolanda enquanto exibia um riso oceânico de menino apaixonado. Mandei ver um poeminha "quem se alia vive aliado/ quem se isola vive isolado/ quem conhece o Lívio, que alívio!"  Cíntia e Lívio foram preparar o churrasco. A barraca de pastel é da dona Elza, a japa é um amor de pessoa, que astral! Márcia Rocha nos fotografou, também a fotografamos. (A Márcia tem um desejo: criar cabras) Você já comeu queijo de cabra? Mas voltando ao assunto: não tem coisa melhor do que pastel, caldo de cana e boas companhias no meio da feira. Feira livre é uma festa.  Ah, comemos pastel de carne porque o de palmito a dona Elza disse que tinha acabado de acabar. Pastel com alegria. Pastel de feira. Voltamos pra casa da Márcia, armamos a mesa de ping-pong. Venci a ambos, mas eles me disseram que foi covardia eu vencer um portador de esclerose múltipla e uma mulher que não tem os rins. Meus amigos, definitivamente, não sabem perder. O progresso transformou a casa da Márcia num local onírico isolado por casas de shows, estacionamentos 24 horas, oficinas mecânicas e barulhos de todos os lados. Mas para mim aquela casa é como se fosse um porto seguro no qual senti uma sensação de paz. Enquanto conversávamos, o Netinho que é o cão da Márcia se apresentou para um carinho. Ora comigo, ora com o Malatiel, ora com a Márcia. O Netinho deve saber - com a sua sabedoria canina- que ninguém pode ser feliz sem um carinho. Ficamos horas ali no colo benfazejo daquele instante. A Márcia nos falou um pouco mais da sua vida; a Márcia nos ensinou (sem querer ensinar) a sermos mais positivos. Abaixo algumas fotos desse sábado de sol:

uma foto diferente
Eu e o Mala cuidando do colesterol
Paulo Netho e Netinho

Márcia Rocha e Malatiel





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08/11/2010

Patativas


 

De doer.

O chão da alma dói. Não sabe explicar. Não sabe. Chove torrencialmente por dentro, onde os seus cachorros não param de uivar. Noite sem fim. Nem tudo o que parecia era e nem tudo o que era, eras.

Confuso.

Só se entende na confusão. Não sabe explicar. Não sabe. Do lado de dentro é com ele. Do lado de fora é com o mundo. O mundo ou o ignora ou tá de sacanagem. O mundo não para. Do lado de dentro caminha para as origens. Do lado de fora para as vertigens.

Um minuto de atenção.

A chuva amainou. Deu vez aos impertinentes soluços. Prantos entrecortados. Espasmo involuntário solidificado. Uma mãe aflita sem o seu bebê. O arfar do mar. Uma erupção vulcânica. Patativas, labaredas. Nenhuma lamparina.

Nada.

Não sabe explicar. Não sabe.

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07/11/2010

Pelabílis

Quantas são as ilhas nesta cidade de fim de século, onde se vivem confusões peculiares, onde se vive pelabílis em ebulição? Lições de anantomia. Lições de anatomia. Quando as coisas não passam pelo coração eu nada entendo.

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05/11/2010

Conversas fiadas

Salatiel Silva e Paulo Netho em Conversas fiadas
Completando 13 anos trabalhando juntos Paulo Netho e Salatiel Silva, do Grupo Balaio de Dois apresentam neste sábado, 6 e domingo 7 de novembro, às 14h30 Conversas fiadas. A plateia é convidada a cantar e a recitar. Cantigas de rodas, trava-línguas, trovas populares são alguns dos ingredientes dessas conversas. Neste trabalho, crianças e adultos têm encontro marcado na Ponte da Infância. Estas serão as duas últimas apresentações que a dupla faz nessa curta temporada no Centro Cultural de São Paulo.  Entrada franca. Conversas fiadas acontecem na Sala de leitura Infanto-Juvenil da Biblioteca Sérgio Milliet. Compareça!

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01/11/2010

Aquele palavrão

O seu Zé Maria disse que erraram no meu nome. Erraram sim, o senhor tem toda razão! Se queriam-me felizardo podiam ter escolhido, outro nome, porque um nome, seu Zé, vai com a gente, grudado e exibido, por uma vida inteira...

Mas a coisa podia ter sido bem pior se os meus pais aceitassem a sua sugestão: lembra-se disso, seu Zé? Ah, tenha dó... José Bonifácio... Ninguém aguenta, ninguém merece!

Salvei-me também do sério, do seríssimo Paulo Rogério que mamãe tanto queria. Só não me livrei do palavrão... Daquele palavrão. O Geraldão que é o meu pai, foi ao cartório naquele dia 08 de setembro e bateu o martelo: “Esse menino vai se chamar Paulo Feliciano Barbosa Neto”. Os outros nomes e sobrenomes entraram pelo cano, menos um, esse ensanduichado Felicianooooo...

E logo no primeiro ano de escola, a Dona Cida, a minha professora, passou a me chamar de Feliciano, como que fazendo uma homenagem ao meu pai ou ao meu avô, sei lá. “Feliciano isso, Feliciano aquilo”.

Eu me sentava na primeira carteira, bem pertinho da mesa da Dona Cida. Não é por nada não, mas a Dona Cida tinha uma cara de cachorro bravo. Ela usava óculos de armação marrom e pesada, as lentes mais pareciam fundo de garrafa de tubaína e ela era mesmo um cão em forma de gente.

Lição de de casa com a Dona Cida tinha outro nome: DEVER, uma obrigação à qual nós, os aluninhos, tínhamos que nos sujeitar sem sequer dar um pio.

Acontece que um dia, eu já sofria de poesia e de ócio, e a Dona Cida tava colocando o DEVER na lousa e quando ela terminou, notou que eu já havia guardado quase todo o meu material, só sobrara uma régua de madeira, de 30 centímetros.

Incotinente, a professora me questionou: “Feliciano, já copiou o DEVER?” Tremendo de medo disse-lhe que sim. A Dona Cida então pediu para ver o meu caderno, havia escrito apenas a fatídica, a impositiva palavra DEVER.

A mulher espumou de raiva e não teve dúvidas: pegou aquela régua de madeira, de 30 centímetros e deu na minha cabeça, mas o que mais doeu foi ouvi-la pronunciar aquele horripilante F E L I C I A A A A N O.

Mas eu perdôo a senhora, Dona Cida, perdôo mesmo, só acho que a senhora não precisava ter dito aquele palavrão, pra quê? Não bastava só a reguada.

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30/10/2010

Balaio na estrada

Hoje no Centro Cultural de São Paulo realizamos mais uma apresentação da temporada que estamos cumprindo lá. Tem sido de uma felicidade ímpar essa nossa passagem pela Sala de Leitura da Biblioteca Infantojuvenil Mario Milliet. Desde a primeira apresentação no dia 09 de outubro até a realizada hoje, temos nos supreendidos com o público que vem nos prestigiando (sempre com a casa cheia). O nosso show de poesia e música para crianças atinge a família toda. É comum vermos pais e filhos, tios e avós, bem como as pessoas que costumam frequentar as dependências desse importante pólo de cultura da cidade, renderem-se aos encantos da palavra cantada e falada. Estamos, eu e o Sala, nessa tocada há treze anos e a sintonia fina que adquirimos ao longo desse tempo pode ser notada durante as nossas apresentações. Quando acaba, saímos literalmente de alma lavada. O nosso suor é pago com os inúmeros pássaros que ajudamos a brotar nos olhinhos dos pequenos. Quem nos assiste gosta de ser participante também e nós gostamos dessa troca. No final, sempre fica aquela sensação de "quero mais". Amanhã, às 11 horas da manhã, a gente leva o nosso Balaio de Dois para o Sesc da cidade de São Carlos, no interior de São Paulo.

*Aqui vai um agradecimento todo especial para os funcionários CCSP: Valéria, Denise, Elisa, Maria, Maria Helena e Cláudia pelo carinho como nos acolhem sempre.

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29/10/2010

Balaio de Dois na área!



Nos próximos dias, o grupo Balaio de Dois composto por mim e pelo Salatiel Siva vai se apresentar em São Paulo, São Carlos e São José dos Campos. A manhã, 30/10, às 14h30 - estaremos no Centro Cultural de São Paulo (Rua Vergueiro, 1000). No domingo dia 31, às 11 da manhã é a vez de São Carlos conhecer o nosso trabalho (SESC) e na terça-feira, 02/11 às 14 horas é a vez do SESC São José dos Campos. No cardápio: cantigas de rodas, trava-línguas,
poesias, trocadilhos...

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28/10/2010

Tô Só

Tô Só é o título de uma crônica que Hilda Hilst escreveu para o "Correio Popular" de Campinas-SP, a qual foi publicada numa segunda-feira, 16 de agosto de 1993. Segunda-feira. Ah, esse texto eu pesquei num site muito bacana http://www.angelfire.com

Foto: M.Fuentes - Instituto Hilda Hilst


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Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá

de teta

de azul

de berimbau

de doutora em letras?

E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...

Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?

Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?

nave

ave

moinho

e tudo mais serei

para que seja leve

meu passo

em vosso caminho.*

Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha.


* Trovas de muito amor para um amado senhor - SP: Anhambi, 1959.


27/10/2010

Elizabeth Gilbert

Nesta tarde enquanto alimentava o meu ócio criativo lendo uma deliciosa crônica da Hilda Hilst "Tô só", recebi um e-mail da minha amiga Ana Rita Aranha Ferraciolli no qual ela compartilhou comigo o vídeo que você vai ver abaixo, onde a escritora Elizabeth Gilbert reflete sobre as coisas impossíveis que esperamos dos artistas e gênios -- e divide conosco a idéia radical de que, em vez dessas pessoas raras "serem" gênios, todos nós deveriamos "ter" um gênio. É um relato muito pessoal, bem humorado e surprendentemente emocionante.

26/10/2010

Que noite!

Tinha tudo para ser uma noite tranquila. Foi para cama por volta das dez da noite. Queria dormir no mínimo umas oito horas ininterruptas. Os últimos dias foram cansativos e nada melhor do que o sono para recuperar a voz.

Não se importava com o barulho da avenida, com os gritos ardidos dos adolescentes maritacas. Nem com a pregação em altos decibéis dos evangélicos na esquina. Nada disso ia ser capaz de demôve-lo do seu desejo de chafurdar-se nos lençóis macios do sono bom.

Antes, porém, para se certificar que tudo ia dar certo foi até a cozinha e preparou um suco de maracujá. Entre a cozinha e o quarto parou na sala para observar os seus livros nas estantes. Notou que a sua plantinha estava seca. Deu a ela uma caneca grande de água e ainda a desejou uma noite benfazeja.

De volta ao quarto notou que a mulher roncava profundamente, parecia até uma britadeira dessas com as quais os homens da Sabesp furam o chão para resolver os vazamentos de água pela cidade. Não se incomodou com isso, sabia muito bem que mulheres roncam. É da natureza humana.

Passou pela mulher e foi direto ao banheiro para escovar os dentes. Olhou-se no espelho satisfeito e resolveu render-se, enfim, aos encantos de Hipnos. Deitou-se no macio da Cama Box, respirou profundamente enquanto ouvia os últimos ônibus passando fazendo tremer o chão.

Mas uma música pequena, estridente, inesperada e interminável começou a ser executada nos seus ouvidos. Com a música sentiu umas picadas ardidas. Começou a batalha. Acendeu a luz, a mulher nem o notou. Dormia feito uma pedra, uma pedra que ronca. Tentou matar aqueles pernilongos, molhou a toalha amarela e jogou-a contra esses desafinados tocadores de violinos. Alguns ele conseguiu matar. Achou que tinha exterminado até a última geração dos pernilongos.

Fez-se silêncio novamente. Apagou a luz e retornou ao macio da Cama Box. A mulher - encolhidinha feito um rocambolé de carne moída pelo dia cheio na Firma - continuava desmaiada em sua sinfonia de roncos: ora breves, ora profundos.

De olhos fechados e ouvidos atentos o cara permaneceu em alerta. Já-já ele ia dormir, afinal tomou um copão de suco de maracujá. Não seriam uns insetos mequetrefes que lhe tirariam o prazer de uma noite bem dormida. De jeito nenhum.

Acontece que pernilongos são bichos chatos. Camuflam-se nas caixas que ficam em cima do guarda-roupa, debaixo da cama, no teto, atrás da toalha, no chão e quando você pensa que a fatura está liquidada vem aquele inseperado ataque.

O cara cobriu a cabeça, os insetos lhe picaram os pés, quando ele cobriu os pés sobrou picadas nos braços, na testa, na orelha. Por um momento chegou a pensar no rocambolé que roncava ao seu lado e concluiu que o ronco podia ser um ótimo antídoto contra esses insetos impertinentes, esses inimigos públicos número 1 do sono.

Incrível, sua mulher permanecia intacta e ilesa ao bombardeio das tropas sanguinárias desses tocadores de violinos esfomeados. Incrível, o relógio já se aproximava das quatro da manhã e ele ainda não tinha conseguido pregar os olhos.

Chegou à conclusão que o suco de maracujá fora inútil, que o macio da Cama Box de nada o ajudou, que a toalha amarela molhada não o livrou do exército dos desafinados pernilongos sanguinários, tocadores de violino.

Sentado na beirada da cama, estava inconsolável: “Como é que pode uns insetinhos desses acabar com a gente?” Disse isso quando um pernilongo gordão e enfastiado passou bem rente aos seus olhos. Ele não teve dúvida, com as duas mãos deu um telefone esmagando o inseto.

Sentiu-se vingado e finalmente pode
chafurdar-se nos lençóis macios do sono bom.


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23/10/2010

Balaio de Dois no Butantã

Para você que mora na região do Butantã, neste sábado, às 14 horas tem Balaio de Dois na Biblioteca Camila Cerqueira César. Eu o Salatiel Silva (esses dois bonitões clicados pela Ana Lasevicius) vamos brindar pais, filhos e educadores com a alegria contagiante do nosso show. Prepare-se para enrolar a língua tentando dizer um trava-língua. Se achar tal tarefa embaraçosa alacalme-se cantando uma cantiga de roda. Bem o resto você vai ficar sabendo na hora. Então anote aí o endereço da Biblioteca Rua Waldemar Sanches, 41 - Butantã - São Paulo, SP. O telefone é 3731-5210. Entrada é franca.

21/10/2010

A Mulher Torta*

Essas coisas deixam a gente muito feliz. No ano passado comecei o ano dando uma Oficina de Poesia Falada para as professoras do Colégio Jardim São Paulo, na zona norte da Capital. Nunca mais falei com ninguém e hoje recebi esse e-mail da bibliotecária do Colégio, a Maria. Sou grato ao trabalho dos professores que acabam legitimando o meu. Como escreveu Rubem Braga "por distração acabamos matando muitas ternuras".

Obrigado à Maria, aos professores e aos alunos do Colégio São Paulo pelo carinho. Estou à disposição para conversar com os alunos.

Ah, sobre outros projetos: tenho sim. Pela Editora Positivo lancei o Casa de Arrepiar.
atenciosamente,

Paulo Netho

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Olá Paulo!
Sou a Maria, bibliotecária do Colégio Jardim São Paulo.
Tudo bem com você?
Fiz aquisição do seu livro "A mulher torta" e, entre os dias 18 e 29 de outubro, na "Hora do conto", estaremos fazendo a contação dessa sua história.
Nesta semana os alunos dos 4º e 5º Anos do Ens. Fund. estão participando desse momento. Na próxima semana será a vez da Ed. Infantil, com as devidas adaptações, e dos 1º, 2º e 3º Anos do Ens. Fund.
Eles estão adorando. Muitos deles já vieram pedir o livro para ler em casa. Isso é maravilhoso. E mesmo que não tenha mais nenhum exemplar disponível, logo pedem um outro de suspense, terror ou de medo (como eles dizem), até que "A mulher torta" fique disponível.
Eles perguntam com frequência se há, ou haverá, continuação da história.
Você tem algum projeto parecido?
Abaixo estão algumas fotos da sala do conto. Fiz uma ornamentação para criar um certo clima de suspense inicial. Tem sido muito legal.





Sucesso, Paulo. Muito sucesso. Você merece.

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A Mulher Torta é um livro que escrevi, o qual foi brilhantemente ilustrado pela queriiiiiida Costança Lucas e publicado pela Editora Formato.

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Blog da Nani Braun

A minha amiga Nani Braun criou o seu blog. Conheço a Nani já faz um bom tempo e essa mulher sempre foi generosa comigo. Lembro-me de quando tinha uma livraria "A Casa do Poeta", ela passou um mês de julho todo contando histórias para as crianças que passavam as férias na minha casa. Para quem ainda não a conhece, a Nani é atriz, radialista e, há quinze anos, é contadora de histórias. Além disso foi apresentadora do programa Eureka!, da TV Cultura, e desta experiência com grandes auditórios em programa ao vivo, tirou o formato para seu estilo de trabalho atual. Já linkei o blog dela aí ao lado.

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Viva o Saci!

O Projeto O Autor na Praça, antecipando a comemoração do Dia do Saci e seus amigos (31 de outubro), no próximo sábado, dia 23, tem mais uma Tarde Poética no Espaço Plínio Marcos. Vai rolar o “Sarau Sacizado”, com as presenças dos saciólogos, o escritor Mouzar Benedito e do ilustrador Ohi, respectivamente autor e ilustrador do livro "Saci, o Guardião da Floresta" e de Thiago Vaz, grafiteiro e autor do Saci Urbano. Além de leituras estaremos relançando a campanha para o Saci como Mascote da Copa do Mundo em 2014 no Brasil. Venha contar sua história sobre o Saci, o Curupira, a Caipora e outros mitos da cultura brasileira. Veja o documentário “Somos Todos Sacy” de Rudá Andrade e Silvio de Amaral Rocha e escolha um texto sobre o Saci e seus amigos: www.sosaci.org.

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Serviço

O Autor na Praça e o Encontro de Utopias tarde poética “Sarau da Sacizada”.

Praça Benedito Calixto - Pinheiros - São Paulo

Dia 23 de outubro, sábado, a partir das 14h.

17/10/2010

Hoje tem Balaio?

Fotos: Adilson Casado

Hoje tem Balaio? Tem, sim senhor!
Continuando a nossa pequena temporada no Centro Cultural de São Paulo, daqui a pouco, às 14h30, o grupo Balaio de Dois se apresenta na sala de leitura da Biblioteca Infantojuvenil Mario Milliet.
Ontem foi uma festa. O público se divertiu com os trava-línguas, tomou uns sustinhos com os nossos "medos, medinhos e medões", cantou, dançou e recitou. Eu e o Sala tentamos sair mais cedo, mas a molecada não deixou.



Depois que acabou a apresentação todo mundo queria tirar foto com a gente; nos sentimos importantes. A gente tirou fotos, as crianças brincaram com o grilo, com os bilboquês e sei lá mais o quê!
Então, depois dessa prosa toda, se puder vá lá se divertir com a gente. A entrada é franca e o seu pai não vai perder o jogo das 16 horas. Sabe por quê? Porque a gente acaba antes.

E tchau.

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16/10/2010

vídeos

TV Sentidos



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Balaio de Dois - vídeos de Ana Lascevicius



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15/10/2010

No reino das palavras

Em 2006 lancei pela Editora Formato, o livro O Pinto Pelado no Reino dos Trava-Línguas. Naquela oportunidade, o Chico dos Bonecos fez uma análise sobre o livro, a qual eu publiquei neste blog quando ele estava em outro endereço. Essa história eu escrevi para narrar no Hopi Hari e depois foi publicada.

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Por Chico dos Bonecos

O Pinto Pelado no Reino dos Trava-línguas”, de Paulo Netho, é uma história encantadora – misteriosa como a própria infância.

Para começo de conversa, e para a conversa começar, o autor, no primeiríssimo parágrafo, apresenta o nobre Senhor Domingos Pinto Colchão.

Logo em seguida, no segundíssimo parágrafo, o autor anuncia o sumiço do Pinto Pelado.

Conclusão: já na primeira página, o leitor fica perdidíssimo...

Para o conforto do leitor, o narrador, generoso, revela que a história do Pinto Pelado é, na verdade verdadeira, é a história da sua procura, a investigação de seus passos. Pegadas na areia? Digitais na geladeira? Sola do tênis na parede? Não, os rastros deixados por Pinto Pelado são feitos, apenas, de palavras...

A partir da página 10, o narrador, já com ares de personagem bisbilhoteiro, inicia a sua jornada circuncisfláutica atrás daquele que seria a personagem principal da história.

Então, o narrador, com ares e dares de personagem, com direito a dialogar diretamente com as outras personagens, inicia uma vasta colheita de pistas no estilo disse-que-me-disse:

Lá, cada um dizia o que bem achava sobre o paradeiro do frango (...)” (Página 10)

(...) imagino que ele (...)” (Página 11)

(...) um engraxate que tinha ouvido quando alguém berrou com o Domingos (...) o engraxate ainda nos contou” (Página 12)

(...) Consuelo Elo, que me contou (...)” (Página 14)

De repente, de rompante, o narrador-personagem, curiosíssimo, resolve abandonar a investigação – mas apenas pelo breve espaço de tempo da página 16:

Enquanto isso, do outro lado do Reino (...)”

E logo-logo retornamos à vasta colheita:

Dizem que (...)” (Página 17)

Foi aí que ele conheceu (...)” (Página 18)

Quando, finalmente, felizmente, todas as informações indicam que o Senhor Domingos Pinto Colchão conseguiu sair do Reino dos Trava-línguas... O que acontece? Ficamos sabendo, apenas, o que o Pinto Pelado aprendeu.

Apenas?

A duras penas, nós, que estamos do lado de cá do papel, aprendemos que a personagem principal estava presente na história o tempo inteirinho, bem ali, debaixo do nosso nariz de leitores: o Pinto Pelado são as palavras em estado de literatura, em ebulição lúdica, em efervescência comunicativa.

E assim termina esta história: entrou pelo pé do pinto, saiu pelo pé do pato. Quem quiser que eu conte outra que se vire e conte quatro...”


Chico Francisco dos Bonecos Marques


(Diretamente do Reino dos Trava-línguas)

14/10/2010

Eu reparo tudo

Todas as manhãs sou tomado de um sentimento. Pássaros me namoram há séculos. Conheço bem os seus chilrados e por conhecê-los bem chamo-os intimamente de Mozart, Chopin, Villa-Lobos, Jobim...

Meus passos seguem o compasso do meu coração, enquanto os meus olhos deslindam cada poção de cores, de aromas e formas.

Os ônibus vão cheios com a minha ausência dentro. A minha ausência me completa. Eu agradeço essa falta.

Um João-de-Barro. Quanto tempo não via um. Quanto tempo. Estava ali a ouvir um desavisado Sabia-Laranjeira trepado no galho de uma árvore sem motivos.

Aquela moça desviou o meu olhar empassarinhado. Agora eu a sigo por toda parte. Ela entrou na padaria, comprou pão e leite, e um chocolate branco.

Eu reparo tudo.

Um menino me cobrou um trocado, um olhar trocado...

A moça, aquela moça, cadê? Senti saudade do que nunca tive, mas não foi nada não. É como eu disse: todas as manhãs sou tomado de um sentimento.

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13/10/2010

Xô, passarinho!

O menino passou o dia das crianças na caverna. Uma caverna inventada por ele mesmo. A caverna ficava bem debaixo de um lençol azul. A entrada era uma entrada secreta, também inventada por ele mesmo, e ficava no meio do gordo colchão. De lá, o menino viu uma perna, um passarinho e reclamou assimzinho: "Xô, xô, xô passarinho!" Naquela caverna inventada no feliz por ele mesmo, o menino ficou que ficou se sentindo nas trevas boas do escurinho.

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08/10/2010

Conversas fiadas

foto: Ana Lasevicius


O Grupo Balaio de Dois, composto por Paulo Netho e Salatiel Silva, começa amanhã a temporada no Centro Cultural de São Paulo. Ao todo vão ser 7 apresentações na Sala de Leitura Infantojuvenil da Biblioteca da Biblioteca Sérgio Milliet. Em Conversas fiadas a plateia vai ouvir histórias, poesias e humor. São conversas temperadas por canções, poesias, lengalengas e nonsense. No programa, a inédita história O Vendedor de Sonhos e o Macaco, escrita, contada e cantada por Salatiel Silva. As crianças vão se divertir também com um detetive meio maluco chamado Sherlock Pum, numa história narrada a partir do livro homônimo de Paulo Netho, e também a história acumulativa de uma menina que reclama de tudo.

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Quando: dias 09,10, 16,17 e 30 de outubro
e também nos dias 06 e 07 de novembro.
Sábados e domingos, sempre às 14h30
Entrada franca

07/10/2010

Cartinha da Carol

Oi Paulo Netho, não sei se ainda se lembra de mim mas eu sou a Carol, aluna da Fundação Bradesco, nos conhecemos na Feira do Livro e você leu um dos meus poemas, estou entrando em contato com você, para lhe dizer que eu estou aprendendo sobre dois tipos de poemas que eu estou achando muito Rolando de tanto rirDIVERTIDOVolto logo chamam-se limeriques e cacoliques acredito que já os conhece e eu vou TENTAR te explicar. Bem, o limerique é um poeminha de cinco versos (linhas ) e que os dois primeiros versos são grandes e rimam entre si, os dois do meio rimam também entre si e são versos menores e o último rima com os dois primeiros e é grande também. A professora nos pediu para escrever um limerique, o meu ficou assim:


EXISTEM VARIADAS FLORES
COM MUITO JEITOS E CORES
DIVERSOS TAMANHOS
E FORMATOS ESTRANHOS
E O MELHOR SÃO OS SEUS ODORES

E os cacoliques são como os limeriques só que com um pouco de cacofonia (quando a sílaba final de uma palavra se encontra com a sílaba inicial de outra produzindo um som desagradável). A professora também pediu para escrever um cacolique, o meu ficou assim:

GI NÃO GOSTA DE REPETIÇÃO
LEU UM POEMA QUE TUDO ACABAVA COM ÃO
AI QUE REPETITIVO!!!
VOCÊ NÃO CONCORDA COMIGO?
E FALOU CANSADA AVI!!! ÃO

Bem, é isso Paulo Netho. Até logo, um abraço e tchau!!!!!!!

Oi Caracol, quer dizer Carol
Aqui é o Paulo Netho que recitou a sua poesia na Feira do Livro. Logo, logo você vai se transformar numa trança rimas como a Tatiana Belinky. Eu amei o seu Limerique e o seu Cacolique. Pra falar a verdade, amei a sua cartinha e as suas explicações. Acho que muita gente que ainda não conhece esse tipo de poesia vai começar a fazer também.

Obrigado querida, escreva mais.

atenciosamente,

Paulo Netho

Pra que polimento, meu Deus?

Na sociedade do espetáculo em que vivemos tudo é fantástico: uma foto, um saco cheio de aerofagia, uma malcriação, vídeos toscos, poemas toscos, programas de televisão toscos, artistas toscos, políticos toscos, professores toscos, alunos toscos, médicos toscos. Qualquer bostare 'estábulo' logo ganha adjetivos: genial, sensacional, colossal e o escambau. Quer saber? É dose pra leão essas sensações, esses exageros gratuitos. Parece que todo mundo, inclusive eu, precisa aparecer no twitter, no facebook, no orkut, na puta que o pariu. Visibilidade. Deve ser a glória dos tolos ser flagrado na mesa do restaurante, na fila do cinema, na feira do bairro, no supermercado, na Bienal, na tela da tevê. Parece que gente assim anseia ser o centro das atenções até mesmo os que negam isso. Na sociedade do espetáculo é preciso chegar chegando, como dizem, causando. Então, pra que polimento, meu Deus? A natureza bruta se brutalizou em nós mesmos, eis a nossa versão mal-acabada. Isso não é genial?

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05/10/2010

Balaio no Centro Cultural de São Paulo


Nos próximos dias 09, 10, 16, 17 e 30 de outubro; e 06 e 07 de novembro sempre às 14h30 - eu o Sala estaremos no Centro Cultural de São Paulo (Vergueiro, 1000) apresentando o Balaio de Dois para pessoas de todas as idades e com vontade de voar. Cantigas de rodas, trava-línguas, poesias, trocadilhos... O evento acontece na Sala de Leitura Infantojuvenil da Biblioteca Sérgio Milliet. Entrada Franca.

04/10/2010

Carta aos amiguinhos do Seta, "a nossa escolha"

Oi amiguinhos!

Acabei de receber as fotos do nosso encontro do último dia 24 de setembro e confesso que gostei demais de ter passado uma tarde daquelas. Saibam que antes mesmo de muitos de vocês terem nascido eu já visitava o Seta, "a nossa escolha", a qual amo de paixão.

Enquanto via amorosamente as fotos que a Mira me mandou, falava para mim mesmo: “mas que crianças danadas são essas. Como me receberam bem! Como foram amorosas comigo! Mas que escola diferente, onde as crianças aprendem brincando!”

Tive a impressão de estar vendo um mosaico desse encontro embutido no mosaico das emoções contidas no brilho dos olhares e na luz dos sorrisos de cada um de vocês.

Aí, vim para o computador e me senti novamente menino escolhendo palavras como quem escolhe feijão ou quem descobre uma nova brincadeira. Escolhendo palavras para poder soprar aos seus ouvidos. Palavras nos dão voz e vez no mundo: não esqueçam disso, heim!

Certa vez, um professor me disse que o poeta é aquele que prepara um presente para a humanidade. Claro que deixei a escola de vocês com a sensação de encantamento. Fiquei encantado com as expressões de cada um. Expressões primeiras, desnudas de pré-conceitos. Expressões voejantes.

Sinceramente, espero que vocês continuem sendo como são: livres, leves e soltos sem medo de colocarem no mundo pitadas bem servidas de afetos, sonhos e esperanças.

Já estou com saudades,

um abraço

Paulo Netho

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Fotos: Mira Roxo


Brincando de tábobol


Brincando no quintal, na beira da horta

Mamãe, titia...
Vem ver o Thales chupando cana!

E essa garotinha também, Mamãe!

Todos tinham algo a dizer

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03/10/2010

Irene no mercado

Irene no mercado é o título do decalque que fiz do poema Irene no céu do poeta Manuel Bandeira. A ilustração bem humorada é do meu amigo Ricardo Girotto, a qual faz parte do meu novo livro Poesia Mágica. Clique na imagem para visualizar melhor.



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