Todas as manhãs sou tomado de um sentimento. Pássaros me namoram há séculos. Conheço bem os seus chilrados e por conhecê-los bem chamo-os intimamente de Mozart, Chopin, Villa-Lobos, Jobim...
Meus passos seguem o compasso do meu coração, enquanto os meus olhos deslindam cada poção de cores, de aromas e formas.
Os ônibus vão cheios com a minha ausência dentro. A minha ausência me completa. Eu agradeço essa falta.
Um João-de-Barro. Quanto tempo não via um. Quanto tempo. Estava ali a ouvir um desavisado Sabia-Laranjeira trepado no galho de uma árvore sem motivos.
Aquela moça desviou o meu olhar empassarinhado. Agora eu a sigo por toda parte. Ela entrou na padaria, comprou pão e leite, e um chocolate branco.
Eu reparo tudo.
Um menino me cobrou um trocado, um olhar trocado...
A moça, aquela moça, cadê? Senti saudade do que nunca tive, mas não foi nada não. É como eu disse: todas as manhãs sou tomado de um sentimento.
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