15/10/2010

No reino das palavras

Em 2006 lancei pela Editora Formato, o livro O Pinto Pelado no Reino dos Trava-Línguas. Naquela oportunidade, o Chico dos Bonecos fez uma análise sobre o livro, a qual eu publiquei neste blog quando ele estava em outro endereço. Essa história eu escrevi para narrar no Hopi Hari e depois foi publicada.

...

Por Chico dos Bonecos

O Pinto Pelado no Reino dos Trava-línguas”, de Paulo Netho, é uma história encantadora – misteriosa como a própria infância.

Para começo de conversa, e para a conversa começar, o autor, no primeiríssimo parágrafo, apresenta o nobre Senhor Domingos Pinto Colchão.

Logo em seguida, no segundíssimo parágrafo, o autor anuncia o sumiço do Pinto Pelado.

Conclusão: já na primeira página, o leitor fica perdidíssimo...

Para o conforto do leitor, o narrador, generoso, revela que a história do Pinto Pelado é, na verdade verdadeira, é a história da sua procura, a investigação de seus passos. Pegadas na areia? Digitais na geladeira? Sola do tênis na parede? Não, os rastros deixados por Pinto Pelado são feitos, apenas, de palavras...

A partir da página 10, o narrador, já com ares de personagem bisbilhoteiro, inicia a sua jornada circuncisfláutica atrás daquele que seria a personagem principal da história.

Então, o narrador, com ares e dares de personagem, com direito a dialogar diretamente com as outras personagens, inicia uma vasta colheita de pistas no estilo disse-que-me-disse:

Lá, cada um dizia o que bem achava sobre o paradeiro do frango (...)” (Página 10)

(...) imagino que ele (...)” (Página 11)

(...) um engraxate que tinha ouvido quando alguém berrou com o Domingos (...) o engraxate ainda nos contou” (Página 12)

(...) Consuelo Elo, que me contou (...)” (Página 14)

De repente, de rompante, o narrador-personagem, curiosíssimo, resolve abandonar a investigação – mas apenas pelo breve espaço de tempo da página 16:

Enquanto isso, do outro lado do Reino (...)”

E logo-logo retornamos à vasta colheita:

Dizem que (...)” (Página 17)

Foi aí que ele conheceu (...)” (Página 18)

Quando, finalmente, felizmente, todas as informações indicam que o Senhor Domingos Pinto Colchão conseguiu sair do Reino dos Trava-línguas... O que acontece? Ficamos sabendo, apenas, o que o Pinto Pelado aprendeu.

Apenas?

A duras penas, nós, que estamos do lado de cá do papel, aprendemos que a personagem principal estava presente na história o tempo inteirinho, bem ali, debaixo do nosso nariz de leitores: o Pinto Pelado são as palavras em estado de literatura, em ebulição lúdica, em efervescência comunicativa.

E assim termina esta história: entrou pelo pé do pinto, saiu pelo pé do pato. Quem quiser que eu conte outra que se vire e conte quatro...”


Chico Francisco dos Bonecos Marques


(Diretamente do Reino dos Trava-línguas)

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