28/11/2010

Sábado de sol


Ontem deu feira e eu me dei férias das chateações. Vesti-me na borracha de uma hawaiana preta que combinou bem com a bermuda verde e a camiseta branca. Com esses simples apetrechos me embrenhei no sábado azul. Adoro dias azuis, noites estreladas, gente de bem com a vida. Pertinho do meio dia, o Malatiel passou em casa. Fomos visitar a querida amiga Márcia Rocha; ela mora na rua da feira. Chegando lá, fomos direto à barraca de pastel. A Márcia passou batom básico que combinou com o esmalte vermelho das unhas e colocou os óculos escuros. A barraca de pastel fica ao lado de uma de caldo de cana. O seu Zé Carlos e a dona Darcy são os donos do caldo de cana; ontem, esse casal completou 30 anos de casamento. O seu Zé, todo orgulhoso, foi quem nos contou. Antes desse momento gastronômico, porém, encontramos outra amiga: a Cíntia Macedo. Lívio, o amor made in Italia da donzela, segurava a sacola da moça de Vila Yolanda enquanto exibia um riso oceânico de menino apaixonado. Mandei ver um poeminha "quem se alia vive aliado/ quem se isola vive isolado/ quem conhece o Lívio, que alívio!"  Cíntia e Lívio foram preparar o churrasco. A barraca de pastel é da dona Elza, a japa é um amor de pessoa, que astral! Márcia Rocha nos fotografou, também a fotografamos. (A Márcia tem um desejo: criar cabras) Você já comeu queijo de cabra? Mas voltando ao assunto: não tem coisa melhor do que pastel, caldo de cana e boas companhias no meio da feira. Feira livre é uma festa.  Ah, comemos pastel de carne porque o de palmito a dona Elza disse que tinha acabado de acabar. Pastel com alegria. Pastel de feira. Voltamos pra casa da Márcia, armamos a mesa de ping-pong. Venci a ambos, mas eles me disseram que foi covardia eu vencer um portador de esclerose múltipla e uma mulher que não tem os rins. Meus amigos, definitivamente, não sabem perder. O progresso transformou a casa da Márcia num local onírico isolado por casas de shows, estacionamentos 24 horas, oficinas mecânicas e barulhos de todos os lados. Mas para mim aquela casa é como se fosse um porto seguro no qual senti uma sensação de paz. Enquanto conversávamos, o Netinho que é o cão da Márcia se apresentou para um carinho. Ora comigo, ora com o Malatiel, ora com a Márcia. O Netinho deve saber - com a sua sabedoria canina- que ninguém pode ser feliz sem um carinho. Ficamos horas ali no colo benfazejo daquele instante. A Márcia nos falou um pouco mais da sua vida; a Márcia nos ensinou (sem querer ensinar) a sermos mais positivos. Abaixo algumas fotos desse sábado de sol:

uma foto diferente
Eu e o Mala cuidando do colesterol
Paulo Netho e Netinho

Márcia Rocha e Malatiel





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08/11/2010

Patativas


 

De doer.

O chão da alma dói. Não sabe explicar. Não sabe. Chove torrencialmente por dentro, onde os seus cachorros não param de uivar. Noite sem fim. Nem tudo o que parecia era e nem tudo o que era, eras.

Confuso.

Só se entende na confusão. Não sabe explicar. Não sabe. Do lado de dentro é com ele. Do lado de fora é com o mundo. O mundo ou o ignora ou tá de sacanagem. O mundo não para. Do lado de dentro caminha para as origens. Do lado de fora para as vertigens.

Um minuto de atenção.

A chuva amainou. Deu vez aos impertinentes soluços. Prantos entrecortados. Espasmo involuntário solidificado. Uma mãe aflita sem o seu bebê. O arfar do mar. Uma erupção vulcânica. Patativas, labaredas. Nenhuma lamparina.

Nada.

Não sabe explicar. Não sabe.

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07/11/2010

Pelabílis

Quantas são as ilhas nesta cidade de fim de século, onde se vivem confusões peculiares, onde se vive pelabílis em ebulição? Lições de anantomia. Lições de anatomia. Quando as coisas não passam pelo coração eu nada entendo.

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05/11/2010

Conversas fiadas

Salatiel Silva e Paulo Netho em Conversas fiadas
Completando 13 anos trabalhando juntos Paulo Netho e Salatiel Silva, do Grupo Balaio de Dois apresentam neste sábado, 6 e domingo 7 de novembro, às 14h30 Conversas fiadas. A plateia é convidada a cantar e a recitar. Cantigas de rodas, trava-línguas, trovas populares são alguns dos ingredientes dessas conversas. Neste trabalho, crianças e adultos têm encontro marcado na Ponte da Infância. Estas serão as duas últimas apresentações que a dupla faz nessa curta temporada no Centro Cultural de São Paulo.  Entrada franca. Conversas fiadas acontecem na Sala de leitura Infanto-Juvenil da Biblioteca Sérgio Milliet. Compareça!

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01/11/2010

Aquele palavrão

O seu Zé Maria disse que erraram no meu nome. Erraram sim, o senhor tem toda razão! Se queriam-me felizardo podiam ter escolhido, outro nome, porque um nome, seu Zé, vai com a gente, grudado e exibido, por uma vida inteira...

Mas a coisa podia ter sido bem pior se os meus pais aceitassem a sua sugestão: lembra-se disso, seu Zé? Ah, tenha dó... José Bonifácio... Ninguém aguenta, ninguém merece!

Salvei-me também do sério, do seríssimo Paulo Rogério que mamãe tanto queria. Só não me livrei do palavrão... Daquele palavrão. O Geraldão que é o meu pai, foi ao cartório naquele dia 08 de setembro e bateu o martelo: “Esse menino vai se chamar Paulo Feliciano Barbosa Neto”. Os outros nomes e sobrenomes entraram pelo cano, menos um, esse ensanduichado Felicianooooo...

E logo no primeiro ano de escola, a Dona Cida, a minha professora, passou a me chamar de Feliciano, como que fazendo uma homenagem ao meu pai ou ao meu avô, sei lá. “Feliciano isso, Feliciano aquilo”.

Eu me sentava na primeira carteira, bem pertinho da mesa da Dona Cida. Não é por nada não, mas a Dona Cida tinha uma cara de cachorro bravo. Ela usava óculos de armação marrom e pesada, as lentes mais pareciam fundo de garrafa de tubaína e ela era mesmo um cão em forma de gente.

Lição de de casa com a Dona Cida tinha outro nome: DEVER, uma obrigação à qual nós, os aluninhos, tínhamos que nos sujeitar sem sequer dar um pio.

Acontece que um dia, eu já sofria de poesia e de ócio, e a Dona Cida tava colocando o DEVER na lousa e quando ela terminou, notou que eu já havia guardado quase todo o meu material, só sobrara uma régua de madeira, de 30 centímetros.

Incotinente, a professora me questionou: “Feliciano, já copiou o DEVER?” Tremendo de medo disse-lhe que sim. A Dona Cida então pediu para ver o meu caderno, havia escrito apenas a fatídica, a impositiva palavra DEVER.

A mulher espumou de raiva e não teve dúvidas: pegou aquela régua de madeira, de 30 centímetros e deu na minha cabeça, mas o que mais doeu foi ouvi-la pronunciar aquele horripilante F E L I C I A A A A N O.

Mas eu perdôo a senhora, Dona Cida, perdôo mesmo, só acho que a senhora não precisava ter dito aquele palavrão, pra quê? Não bastava só a reguada.

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